sábado, 14 de maio de 2011

Crítica - A Corte dos Traidores


Título: A Corte dos Traidores
Autora: Robin Hobb
Tradutor: Jorge Candeias
Editora: Saída de Emergência
Nº de Páginas: 348
Preço Editor: 19,03€


Vamos encarar frontalmente as circunstâncias - eu estava há dois meses e meio com o conjunto formado por este livro e o anterior. Embora só há três semanas com esta segunda metade. É, naturalmente, muito tempo partilhado com um universo, com umas personagens, com uma envolvência dramática cativante e excepcionalmente bela e bem construída. É, no mínimo, o tempo suficiente para me sentir desamparado e meio embasbacado com a beleza literária do mundo do qual acabei de sair - se não fosse o conforto de saber que ainda tenho o último volume da trilogia para ser lido daqui a uns meses, tenho a certeza que o desamparo seria ainda maior.

Não vou dizer que não tenho palavras. Tenho-as. Depois de 700 páginas de enredo, o que não me faltam são palavras. Esta segunda metade é... lenta na sua fluidez. Os acontecimentos e a tensão concentram-se cada vez mais, já se vê ao longe o rasto de poeira que os cavalos levantam ao aproximar-se, tão perto, tão perto... e no entanto a autora consegue manter um clima calmo, natural.

Existem, claro, momentos de explosão. E nem sempre me senti no controlo da informação que se estava a passar. Momentos houveram em que o meu desnorteamento vagueou pelos corredores de Torre de Cedro, subiu ao Jardim da Rainha, e tentou em vão usar o Talento para compreender as acções que se estavam a desenrolar. A autora é particularmente boa na construção das intrigas: os jogos que estão por detrás, as condições, os planos... mas, às vezes, chegada aos momentos de aceleramento e incisivos, os pensamentos do narrador perdem-se no meio da adrenalina. Deliberadamente, mas ainda assim desagradável para mim enquanto leitor.

E tudo isto visto pelos olhos da personagem maravilhosa que é FitzCavalaria. Por vezes sinto dificuldade em gostar particularmente de protagonistas das histórias. A Saga do Assassino não foi, nem é, excepcção. Mas há em Fitz uma consistência, aliada a um factor emocional exaustivamente explorado (estamos com ele cem por cento do tempo, não é?), que elevam a personagem a muito mais do que "o principal". Muito ajudado pela teia de personagens que o rodeiam. E os cenários, inspiradores. Os diálogos escorrem de forma tão natural e cativante. A lentidão do romance disfarça-se bem, mas está lá; e o contrário: a lentidão do romance está lá, mas disfarça-se bem.

E, por fim, com finais destes uma pessoa não consegue manter as barreiras em cima. Há toda uma ousadia, uma invasão de emoções que são levadas até ao fim. Quando esperamos um desfecho comum (até podemos ter duas ou três hipóteses na cabeça), somos surpreendidos. E, se alguma vez tínhamos pensado que ia terminar de tal maneira, somos ainda assim surpreendidos com a beleza criada à volta dos acontecimentos. O livro é cheio de sensações: a humidade dos reinos costeiros, o calor da fogueira no quarto da rainha, os lençóis de Moli, o cheiro a comida nas cozinhas, os livros roídos pelos ratos na biblioteca, os uivos de um certo lobo, e o Talento que sai do livro e nos acompanha connosco em próximas leituras.

George R. R. Martin disse acerca desta saga - «toda a fantasia devia ser assim». Percebo onde quer chegar, mas sou tentado a discordar. A riqueza desta obra está exactamente no contraste que faz com tantas outras fantasias; a existência de todas elas motiva a excepcionalidade conferida a esta. Emocionante e de leitura forte, será difícil deixar este universo por muito mais que alguns meses. Há todo um desfecho da trilogia à minha espera, e tenho a certeza que com muitas surpresas ainda por serem estampadas na minha consciência de leitor. Excelente, a sério! Para leitores pacientes, mas muito belo.


Personagens Preferidas: A rainha expectante; o protagonista; e... Castro.

Nota (0/10): 9 - Excelente


Tiago

2 comentários:

Cat SaDiablo disse...

Eu disse, eu disse :P

Anónimo disse...

Uma bela escolha para um livro não haja dúvida. Eu já li os livros todos e vou agora na saga seguinte (Tawny Man Trilogy) e posso garantir que não ficarás desiludido. Eu pelo menos não fiquei.

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