segunda-feira, 19 de março de 2012

Crítica - Ilíada


Título: Ilíada
Autor: Homero
Tradução: Frederico Lourenço
Editora: Cotovia
Nº de Páginas: 498
Preço Editor: 35€

Sinopse: «A Ilíada, primeiro livro da literatura europeia, terá surgido no século VIII a.C., no fim de uma longa tradição épica oral; extraordinário canto de sangue e lágrimas, em que os próprios deuses são feridos e os cavalos do maior herói choram, este poema de guerra em 24 cantos mantém inalterada a sua capacidade esmagadora de comover e perturbar. O título remete imediatamente para Ílio ou Ílion – Tróia – e, embora tivesse sido possível, num poema com 16.000 versos, narrar toda a guerra de Tróia, Homero isola um período de pouco mais de cinquenta dias, já na fase final das hostilidades, do qual nos descreve, em termos de acção efectivamente narrada, catorze dias. Concentra, assim, simbolicamente uma guerra de dez anos em duas semanas. Repetindo a proeza alcançada com a sua magnífica Odisseia, Frederico Lourenço oferece-nos agora a primeira tradução integral portuguesa, em verso, desta obra máxima da literatura mundial.»


Há livros que temos que ler pelo menos uma vez na vida. Recuar à antiguidade clássica (estamos a falar, aliás, de uma antiguidade ainda pré-clássica), e descobrir a primeira epopeia de Homero (Homero este que não sabemos se provavelmente terá sido uma personagem fictícia), é uma paragem que muitos leitores deveriam ter em conta. Trata-se de escavarmos até às raízes de muitas concepcções que ainda hoje vemos presentes na nossa literatura, e que na Ilíada desbravavam caminho pela primeira vez.

A tradução, nestes casos, é muito importante. E a desta edição é excelente. Ao contrário do que alguns poderão pensar, o texto não é difícil de ser lido: o vocabulário navega em mares conhecidos, e a construção frásica é muito fácil de ser seguida (bem mais fácil que a dos Lusíadas, por exemplo). O enredo é cativante e cheio de pequenas coisas que podem ser analisadas. É verdade que ajudou conjugar esta leitura com as aulas de Cultura Clássica, porque os pormenores eram-nos apontados com mais evidência. Destaque para os símiles, isto é, uma espécie de metáforas constantes na Ilíada que remetem as descrições de guerra para um panorama da natureza na sua forma original.

A história tece múltiplos enredos, vagueando entre o lado dos aqueus (isto é, os gregos), o dos troianos, e o dos deuses. Deuses estes que gostam sempre de se meterem nos assuntos humanos, e guiam o destino conforme lhes apetece. Não podem deixar de achar engraçado as próprias disputas que existem entre os deuses: quando se erguem uns contra os outros e se dividem cada grupo para o lado que estão a apoiar na guerra.

No meio de tanta guerra e destruição, é ainda possível captarem-se momentos de beleza e ternura impressionantes no contexto da obra. Quando, num dado canto, Heitor se despede da sua mulher e do seu filho, o leitor sente um arrepio perante o momento. Mesmo os cantos que parecem repetir-se na sua confusão bélica, todas as lutas e confrontos em busca da honra e da vitória, têm um sentido. É ainda de destacar o facto de o livro terminar antes do fim da guerra, deixando no ar tudo o que sabemos que vai acontecer a seguir - quando acabamos de ler o último verso, sabemos exactamente os acontecimentos terríveis que se vão seguir; mas, por não os lermos, ainda mais terríveis se tornam na nossa cabeça.

Uma leitura marcante, épica, que aconselho a todos. Eu passei muitas horas de diversão e entusiasmo com ela, e no fim fiquei com a nítida sensação que quando um dia reler a Ilíada vou desfrutar tanto como da primeira vez. Excelente - como seria, aliás, de esperar. Para um livro sobreviver quase três mil anos tem de ter algum potencial, não acham?

Nota (0/10): 9 - Excelente
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