quarta-feira, 25 de maio de 2011

Crítica - O Senhor Brecht


Título: O Senhor Brecht
Autor: Gonçalo M. Tavares
Ilustradora: Rachel Caiano
Editora: Editorial Caminho
Nº de Páginas: 65
Preço Editor: 10,50€

Sinopse: «O Senhor Brecht é um contador de histórias. Senta-se numa sala praticamente vazia e vai contando pequenas histórias entre o absurdo e o humor negro. A sala vai enchendo aos poucos, o que lhe trará no final um novo problema: o público tapa a porta de saída – e o senhor Brecht fica assim encurralado com o seu próprio sucesso.»


Gonçalo M. Tavares costuma dizer que o imaginário criado com esta série «O Bairro» é um caso à parte das suas restantes obras. E que ele próprio só começou a perceber o ritmo e as finalidades da colecção à medida que os ia escrevendo, ao fim de uns quantos. Acho que, como leitor, não podia concordar mais com Tavares: também eu, depois de lidos três Senhores, começo a perceber melhor o conceito desta colectânea de livros.

O Senhor Brecht é, e sem que coloque isto em dúvida por momento algum, o melhor livro que li d' «O Bairro» até ao momento. É como se cada livro tivesse a sua temática. O Senhor Valéry apresentava-nos os esquemas matemáticos, O Senhor Henri tinha como obcessão o absinto, e este O Senhor Brecht quer-me parecer que está virado para as amputações. Maioritariamente. Não é, contudo, devido a esta característica que o livro se tornou o meu preferido (não sou muito sádico). É mais... porque... foi...

Brilhante! Ao longo de 50 pequenas histórias, de apenas uma página, são abordadas inúmeras questões directamente ligadas à nossa sociedade. Temáticas actuais, que representam problemas humanos, uns que são resultado de crises recentes, outros presos a nós desde o princípio da humanidade. Genial! A forma breve e certeira com que estas problemáticas são identificadas é digna de se tirar o chapéu. O Senhor Brecht é uma obra interessantíssima exactamente por isso. Inspirador! Usando e abusando da ironia, a crítica está toda lá, a crítica que é aplicada também a cada um de nós, que podemos identificar-nos naquelas páginas.

Referi atrás a questão da mutilação. Pois é, diria que a quase totalidade das histórias do livro incluem ou uma morte, ou um ferimento, ou o corte de uma parte do corpo (desde dedos à cabeça, passando pelas pernas e pela língua), que, no fundo, estão ali a representar as mudanças e os factores que motivam acontecimentos. Pelo menos é a minha interpretação: interrupcções do estado estático, modificações que funcionam como catalisadores para nos podermos inteirar das consequências. Confuso?...

Deixo-vos com dois pequenos exemplos que escolhi aleatoriamente. Um sem, e outro com a tal violência gráfica:

«Em vez de uvas os cachos do reino deixavam cair sobre a terra diamantes.
- Diamantes, diamantes, diamantes! Há anos que é só isto - queixava-se o produtor.»

«O filósofo dizia que só os homens faziam o importante, enquanto os animais só dispunham de acções insignificantes.
Foi então que chegou o tigre e devorou o filósofo, comprovando com os dentes a teoria anteriormente apresentada.»

Este livro, se analisado com o seu devido tempo, lido com calma, e fazendo ao mesmo tempo um exame interior à nossa consciência, pode ser importante para cada indivíduo. mas se ao leitor não apetecer tal esforço, tem outro uso: simplesmente ler as histórias, com o seu quê de humor (negro...) e deixar de parte a simbologia das metáforas. Um livro divertido, muito rico, e que oferece o que de melhor Gonçalo M. Tavares tem para oferecer com este Bairro. No fim, eu faço parte dos que estão naquela sala, apertados para ouvirem as histórias do senhor Brecht. Senhor Brecht, só mais uma! Vá lá, só mais uma!


Nota (0/10): 8- Muito Bom

Tiago

1 comentário:

Jorge Dantas disse...

Parabéns pelo vosso blogue, um misto de trabalho e entusiasmo que nos deixa com vontade de ler os livros que vocês apresentam :-)

Sugiro que façam um artigo sobre livros digitais, existem inúmeros sítios de editoras que vos permitem aconselhar aos vossos leitores ebooks de descarregamento gratuito.

Em específico, fica o convite a visitarem http://www.bubok.pt/, nomeadamente a minha página http://jorgedantas.bubok.pt/, de onde podem inteirar-se do que se anda a fazer em termos de autopublicação de livros digitais no nosso país e, caso gostem de alguma das obras aí apresentadas, sugerir o download gratuito aos vossos leitores. A título de exemplo fica uma reportagem da rtp 2 sobre este sítio:
http://www.facebook.com/video/video.php?v=218678718143603&oid=155870901116733&comments

Caso publiquem algo sobre este tema, digam-me para eu vos publicitar o artigo e o blogue nas redes onde eu e a Bubok estamos.

Continuação de boas leituras e de boas opinadelas


Jorge

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