segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Entrevista Exclusiva à AHAB Edições!

Mais um primeiro dia do mês, mais uma entrevista exclusiva do Lydo e Opinado: desta vez a uma editora. Recentemente criada, e com obras de grande qualidade já lançadas no mercado (carregar aqui para ver um outro post acerca dela), a AHAB Edições disponibilizou-se a responder às perguntas da equipa do blog, sempre de forma atenciosa - e até, imagine-se, a ceder um exemplar do «Pergunta ao Pó», de John Fante, para passatempo no blog. O passatempo deixamos para quinta-feira o seu começo, porque hoje é dia de entrevista! Queríamos agradecer à editora, pela atenciosidade prestada; e a todos os leitores do Lydo, por nos visitarem assiduamente!

1. Quando e onde surgiu a ideia de criar a editora AHAB? Ou foi uma coisa premeditada ao longo do tempo?
R: A ideia da editora nasce, em grande medida, da exaltação da leitura. Poderia tentar explicá-lo de forma mais detalhada, mas a verdade é que foi algo que simplesmente aconteceu. Do mesmo modo que os escritores escrevem aquilo que gostariam de ler, os editores, sobretudo de literatura, também editam aquelas vozes que consideram culturalmente relevantes e que gostariam de ler e de dar a ler no seu idioma. É um pouco isso.
2. O objectivo da editora é editar grandes obras estrangeiras nunca publicadas em Portugal. Quão ambicioso é o projecto?
R: A nossa política editorial passa, fundamentalmente, por fazermos uma revisão do cânone. Ou seja, por publicarmos aquelas obras cujos méritos literários e culturais são reconhecidos pelos leitores, pela crítica e pelos próprios escritores. Como é bom de ver, há pelo menos duas limitações aos livros que pretensamente desejaríamos editar. Não se poderá tratar nem de uma obra já publicada por outra editora portuguesa nem de uma obra cujos direitos são inalcançáveis. A boa notícia é que ainda há muita coisa interessante por publicar.
3. Qual é o significado no nome da editora e do símbolo - o capitão de um navio?
R: O nome da editora inspira-se no Ahab, o capitão da embarcação no romance “Moby Dick”, de Herman Melville, que anda 600 e tal páginas atrás de uma baleia. Já dá para perceber que se trata de um tipo ligeiramente obcecado e que não desiste ao primeiro temporal. Pareceu-nos uma bela imagem da atitude que um editor deve ter perante um grande livro.
4. Criar uma editora é um projecto que exige um investimento monetário bastante considerável… em tempos que toda a gente fala como de crise, não é algo arriscado?
R: Como li algures, o maior risco é não correr riscos.
5. As três obras iniciais: «Pergunta ao Pó», «A Ilha», e «Pudor e Dignidade». Escolheram-nas como primeiras por alguma razão específica?
R: Para além de serem obras com alma, que nos fizeram vibrar muitíssimo enquanto leitores e que, apesar das suas diferentes moradas, têm todas um lugar na grande e infinita casa da literatura, eu diria que não.
6. Gostaríamos de saber como é o processo de edição que utilizam. Que passos são dados desde que o texto chega aí, até chegar posteriormente às livrarias?
R: Sem entrar em detalhes demasiado maçadores, o trabalho do editor consiste em saber vender os livros que publica. Há várias maneiras de o fazer. A nossa passa por investirmos na qualidade literária dos títulos que publicamos e, bem assim, pelo cuidado depositado nos aspectos críticos da edição como a tradução, a revisão e o design.
7. De entre as obras que pretendem editar, existe alguma que vos tenha "escandalizado" mais por nunca ter sido editada cá?
R: Creio que não se poderá dizer que “O Pergunta ao Pó”, do Fante, ainda seja um segredo bem guardado ao fim de 80 anos. Mas a verdade é que nunca foi editado por cá e isso para nós foi uma oportunidade única. O Arturo Bandini é uma personagem maior do que a vida, de panteão, daquelas verdadeiramente inesquecíveis. E o estilo do Fante, como diz o Bukowski, é emoção total.
8. Podem-nos adiantar o nome de mais alguns autores que pretendem editar no futuro?
R: A 25 de Março publicaremos o clássico “The Prime of Miss Jean Brodie” da Muriel Spark”. Ainda na mesma data sairá o “Winesburg, Ohio”, o título mais aclamado de Sherwood Anderson, um autor que teve uma influência enorme em Hemingway, Faulkner, John Updike, Raymond Carver, entre outros. Cerca de um mês mais tarde, a 22 de Abril, chega a vez do norueguês Kjell Askildsen e de uma antologia de 13 contos intitulada “A Sudden Liberating Thought”, que foi o título com que o Kjell, já então aclamado pela crítica, conquistou a atenção dos leitores. Já em Maio, no dia 20, lançaremos a derradeira obra de William Gaddis, um vulto da ficção americana muito apreciado por Lobo Antunes, com o título de “Ágape, Agonia”.
9. Quem pensam que em Portugal se aproxima de um género internacional?
R: Confesso que não sei bem o que é um género internacional. Acho que tudo se resume a bons e maus livros. E, bem vistas as coisas, um bom livro é um bom livro em qualquer parte do mundo e um mau livro é um mau livro em qualquer parte do mundo também. Dito isto, não tenho dúvidas de que há muitos livros de autores portugueses que são bons em qualquer parte do mundo. Não quero estar a fulanizar, mas parece-me que, entre muitos outros, tanto o Lobo Antunes como o Saramago são escritores com maiúscula.
10. O que é para vocês é bom um escritor?
R: Morreu por estes dias o J. D. Salinger, autor do celebérrimo “Catcher in the Rye”. Holden Caulfield, a carismática personagem, dizia que bom mesmo é o livro que, depois de acabarmos de o ler, nos faz desejar que o autor que o escreveu seja um grande amigo nosso e lhe possamos telefonar sempre que nos apetecer.
11. O Lydo e Opinado achou muito original não só o design das vossas capas, como a inclusão do nome do tradutor na mesma. Acham que é algo importante?
R: Sem o trabalho criativo dos tradutores não poderíamos ler os livros no nosso idioma, não é assim? Eu creio que os melhores são aqueles que, em caso de conflito insanável, optam por ser infiéis à letra para serem fiéis ao espírito. De maneira que pôr o nome do tradutor na capa é uma espécie de condecoração pelo esforço e delicadeza de mão. 
Quanto ao design, o que está no interior do livro é o que verdadeiramente conta. Mas, claro, deve haver uma harmonia entre o que a capa deixa antever e as emoções que latejam no seu interior.
12. Pretendem globalizar a vossa editora, a longo prazo?
R: Cada livro que publicamos é já um itinerário, uma viagem mental. Bom truque, não lhe parece?
13. Têm algum conselho para jovens escritores? O que precisam de fazer para terem sucesso junto das editoras?
R: Escreverem bem e terem alguma coisa a acrescentar ao que já foi dito antes – todos os grandes livros são um diálogo com os autores do passado. E depois, se isso for aquilo que querem realmente fazer, serem mais severos do que ninguém com o seu próprio trabalho e não desistirem à primeira rejeição.
14. Têm algum lema? Algo indispensável na escolha de livros e escritores?
R: Não fazer concessões a modas e publicar livros que estejam vivos ainda que os autores que os escreveram estejam mortos.

Aqui está, então, mais uma entrevista exclusiva aqui do blog. Esperemos ter cativado os leitores a lerem uma obra desta editora, tão recentemente criada e que já promete tanto. Parabéns à AHAB e muito boa sorte no futuro do vosso projecto! Quinta-feira, aqui no blog, daremos início ao passatempo - quem leu a entrevista e ficou curioso, não poderá deixar de participar!

A Equipa do Lydo e Opinado

8 comentários:

SilverBallerina disse...

É óbvio que esta editora promete!

Andreia Veríssimo disse...

Estava mesmo à espera desta entrevista porque não sabia o que iria sair daqui uma vez que ainda não tinham entrevistado nenhuma editora, mas gostei muito! E é uma boa maneira de ficar a conhecer os próximos livros a serem editados :)

E agora só falta o passatempo de 5ª feira xD

Crook disse...

A Ahab parece ser uma editora muito promissora. Estarei atenta aos seus próximos lançamentos, principalmente ao do Winesburg, Ohio, visto que já li excelentes críticas ao mesmo. Parabéns ao Lydo pela iniciativa e espero sinceramente que a Ahab prospere. ;)

SkyStorm disse...

Desconhecia a editora, mas fiquei curioso. Bom trabalho!

Patrícia disse...

Uau! Vão fornecer um livro para o passatempo? Que fixe! :D
Estava mesmo ansiosa por ter um livro desta editora. Estou curiosa :)

Tatiana Moreira disse...

Parabéns!! estou a adora ras entervistas!
a Ahab tem uns livrinhos tão interessantes!!
bjs

Unknown disse...

É muito importante gostar do que fazemos como parece ser o caso do editor. Projectos inovadores é do que precisamos em Portugal. O sucesso vem naturalmente. Quanto custará iniciar um projecto deste tipo? Como arranjar financiamento?
Ajuda muito já ter experiência de trabalho noutras editoras para conhecer os processos envolvidos e as pessoas certas no meio editorial.

Anónimo disse...

Belíssima entrevista!

Por ventura aceitará a editora a sumbissão de originais em Português para análise?

Grato desde já,

Camilo Oliveira

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