sábado, 30 de maio de 2009

O que o Dia deve à Noite - Crítica

«O meu tio dizia-me: 'Se uma mulher te amar, e se tiveres a presença de espírito para avaliar a extensão desse previlégio, nenhuma divindade de te chegará aos calcanhares.'»

O que o dia deve à noite, de Yasmina Khadra, é a história de vida de um rapaz que nasceu e cresceu até aos onze anos nos subúrbios mlongíncuos da cidade de Orão, na Argélia, em plano campo, longe da vida citadina. O pai esforça-se a trabalhar na plantação de cereais, e tudo parece correr bem. Younes, o narrador presente, é esse rapaz, que vive com os pais e a irmã mais nova. Mas de um momento para o outro tudo descarrila: alguém deita fogo aos campos nas vésperas da colheita, e o pai de Younes vê-se obrigado a mudar-se, juntamente com a sua família, para a cidade de Orão, tentando começar de novo a vida do zero. Mas é claro que as úncias posses que têm é para irem viver para a zona mais pobre e obscura da cidade.

Uma história que começa assim - um tapete enrolado - que se vai desenrolando ao longo de trezentas e cinquenta páginas. A vida de Younes não se limita ao bairro pobre. Novos caminhos são abertos, e ele vai crescendo. São inúmeras as personagens que conhece e situações por que passa.

Uma narração acerca dos receios e dos medos, do valor de uma promessa, um retrato da guerra civil Argeliana, que mostra os horrores dos massacres que ocorreram para que os muçulmanos conseguissem a independência (a Argélia pertencia, até então, aos franceses).

Apesar de um ínicio e de um final comoventes e particularmente interessantes, a história atravessa uma fase no seu meio que enrola muito no mesmo assunto. Mas o resultado final compensa. E fica a pergunta no ar: será que é o dia que deve à noite ou a noite que deve ao dia? Metáforas lindas, as que povoam esta história - até no título.

Ambientes de pobreza e de riqueza postos lado a lado, confrontos interiores, fazes boas e menos boas, o amor proíbido, as loucuras dos jovens, tudo isto num romance (histórico?) bastante interessante, que lança uma nova luz sobre a Argélia das décadas de 30 a 60. Aconselho, e tentarei em breve ler outro livro deste autor, cujos três (entre os quais este) dos seus muitos livros estão a ser adaptados para o cinema/televisão.

Número de Páginas: 347

Personagem Preferida: Issa (o pai de Younes, pela força com que lutou) e o próprio Younes (é surpreendente a forma como age e como pensa - surpreendente e muito original).

Nota (0/10): 8/10 (Muito Bom)

Tiago

1 comentário:

automatissun disse...

Já o título me tinha cativado, e esta crítica veio ainda mais aguçar-me a curiosidade. ;)

Blog Widget by LinkWithin