terça-feira, 24 de maio de 2011

Crítica - Felizmente Há Luar!

Título: Felizmente Há Luar!
Autor: Luís de Sttau Monteiro
Editora: Areal Editores
Nº de Páginas: 140
Preço Editor: 13,03€

Sinopse: «Denunciando a injustiça da repressão e das perseguições políticas levadas a cabo pelo Estado Novo, a peça Felizmente Há Luar!, publicada em 1961, no mesmo ano de Angústia para o Jantar, esteve proibida pela censura durante muitos anos. Só em 1978 foi pela primeira vez levada à cena, no Teatro Nacional, numa encenação do próprio Sttau Monteiro.»


Como segunda leitura obrigatória para a escola, só neste mês, e pertencendo novamente à categoria de texto dramático, Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, tinha em mãos uma tarefa peculiar de me tentar cativar. Lido praticamente em cima da hora, isto é, a poucos dias de começar a abordar a obra no contexto da disciplina de Português, cheguei mesmo a ter de ler o II Acto em plena aula, porque fui surpreendido ao ver que, esta segunda-feira, começámos a analisar o livro. E eu só ia a meio. E, uma vez iniciada a matéria, é uma questão de minutos até se começarem a desenhar retrospectivas gerais que envolvem toda a obra. Inclusivé o fim. Sim, spoilers. Não os evitei. Daqueles mesmo maus, que incluem mortes de personagens. É difícil focar-me só na leitura e ignorar por completo o discurso da professora. Mas, ainda que não nas melhores condições, lá concluí a leitura naquele espaço de 90 minutos.

Felizmente há didascálias! Sem elas este livro, enquanto livro, seria mais pobre. Divididas em duas secções (didascálias de movimentações, e didascálias de intenções), o texto está recheado delas, o que ajuda bastante ao leitor a visualisar melhor as situações, e a decifrar os motivos que movem cada personagem. De outra maneira seria muito difícil apercebermo-nos dos jogos e esquemas que estão por trás de alguns dos diálogos; para nós, leitores, que os espectadores terão o trabalho facilitado por aquilo que os actores "decidirem" mostrar. Entre aspas, porque neste aspecto, Luís de Sttau Monteiro é firme - deixa tudo bem claro quanto às intenções e marcações cénicas - não há muito espaço de manobra para os encenadores poderem criar.

O primeiro acto é muito mais politizado que o segundo, embora ambos contenham grandes críticas à sociedade do tempo da governação inglesa em Portugal. E ao Estado Novo. Devem estar a perguntar-se: espera aí, dois períodos tão distantes no tempo, como é que estão relacionados? Simples. O autor queria escrever uma obra que denunciasse a repressão do governo ditatorial de Salazar; mas editar tal coisa durante os tempos de censura era impensável. Daí que tenha recorrido ao estratagema da analogia: a acção da obra passa-se em 1817, em vez de Salazar temos Beresford, em vez do general Humberto Delgado temos o General Gomes de Freire. E temos o contexto de uma revolução que se aproxima. Inteligente, não é? Infelizmente, não escapou ao controlo da PIDE, que proibiu a distribuição do livro.

Mas, dizia eu, felizmente há o segundo acto! Porque o primeiro deixou um pouco a desejar. Muita conversa entre gente de poder acaba de gerar grandes e elaborados diálogos sobre políticas, métodos, intrigas monetárias, etc. E a certa altura cheguei mesmo a perder o fio à meada. Mas o segundo acto funciona como uma lufada de ar fresco, e criamos de imediato empatia com uma ou duas personagens que, emocionalmente interessantes, nos vão acompanhar até ao fim do livro. Os seus gritos de revolta, misturados com as lágrimas de quem verdadeiramente sofre, funcionam ainda melhor como crítica à sociedade e à repressão do que a teorização abordada na primeira metade.

(In)felizmente fica sempre a faltar qualquer coisa! Quase se trata de texto dramático, sinto-o quase dramaticamente. Parece que não foi feito para o leitor, e sim para o espectador, o que faz desta tarefa que é ler uma peça algo um pouco ingrato. Pelo menos é o que sinto. Embora, por mais que tente, não consiga explicar melhor do que isto...

Apesar de tudo fica a sensação de que foi uma leitura agradável, interessante pelos temas que aborda, e que, com certeza, terá dado origem a adaptações para palco bastante bem conseguidas - tem tudo para ter conseguido isso. A certa altura o desespero quer-me parecer ser exagerado, mas felizmente há luar, não é? Uma obra enérgica, que quase se levanta com a sua própria vontade, com o grito que parece dar para fora das páginas. Felizmente há obras assim - agitar consequências é essencial para o avanço do mundo, principalmente quando precisamos de um abanão para restabelecer a ordem da nossa governação. Coincidência ou não, dia 5 de Junho vou exercer o meu direito de voto pela primeira vez na vida, tendo feito há poucos dias os meus 18 anos. Felizmente há liberdade. E, claro, felizmente há luar! Ao menos há luar.


Personagem Preferida: Vicente, e Matilde.

Nota: 6 - Agradável

Tiago

8 comentários:

Unknown disse...

Tu és um rabeta

Anónimo disse...

Tu tbm

Anónimo disse...

paz para o mundo

Anónimo disse...

calem se filhos da puta

Anónimo disse...

Está muito bem escrito, não sei onde arranjou tanta inspiração

Anónimo disse...

cu

Anónimo disse...

CONA BOA

Anónimo disse...

muito bem escrito!

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