Os Maias. Livro de referência no panorama nacional, considerado por muitos como o melhor livro jamais escrito por um português - Eça de Queirós; a sua leitura ocupou-me quase dois meses. Com fases um pouco mais entusiasmantes do que outras, Os Maias acabam por confirmar o seu estatuto de "maçudo", mas também se revelam como um excelente retrato da época, e de uma leitura peculiar.
Carlos da Maia, a personagem que seguimos, vive em Lisboa, nos finais do século XIX. É o mais novo membro da família dos Maias, rica e influente. Tem o curso de medicina, e amigos influentes, também eles da classe social mais elevada. Mora no Ramalhete, uma casa grande, com aspecto de antigo colégio jesuíta, com o seu avô - Afonso da Maia. Estes são os factos. Segue-se a minha opinião:
No decorrer da leitura, as personagens que foram surgindo (Afonso, Carlos, Ega, Dâmaso, Craft, Cruges, Alencar, a Gouvarinho, os Cohen, Maria Eduarda....) foram-se assumindo com formas de pensar distintas, e personalidades bem destacadas das restantes. Isso foi um ponto positivo. A descrição dos locais, e a linguagem quase clássica que era utilizada nessas alturas, também foi bem conseguida. No seu todo, Os Maias são como um poema em prosa, as palavras fluindo melodiosamente...
Mas!... Nem tudo foi agradável durante a leitura. Existem muitos, mas mesmo muitos tempos mortos, em que quase não existe acção, e o tempo limita-se a passar; em que as personagens falam de tudo e mais alguma coisa, em conversas que se prolongam por páginas e páginas, e que abordam tantos e variados temas... mas que acabam por não ter influência nenhuma no enredo. Quase como uma telenovela, em que falam, falam, falam... mas pouco ou nada avança.
Penso ter existido, portanto, um desiquilíbrio nesse nível. Mas a crítica social implícita está bem conseguida, assim como o facto de Eça de Queirós ter inserido aqui e ali alguns poemas; e o ambiente, as festas, as tertúlias - dão vontade de viver naquela época!
Claramente um clássico. Bom. Com os seus exageros em termos de alongamento das situações, e uma linguagem «Chique a Valer!», como diria Dâmaso. É necessária alguma persistência, para não nos deixarmos ficar a meio, mas a história flui mais a partir de metade. Além disso, acho que é daqueles livros que se vão recordar durante muitos e muitos anos.
Páginas: 725
Personagens Preferidas: João da Ega (é bastante reactivo e precipitado, talvez também um pouco inconstante; mas é o melhor amigo do protagonista, consegue enfrentá-lo, e tem um gosto enorme pela literatura!), Craft (talvez porque achei que a sua personalidade se protege em si própria) e Alencar (que belos poemas ele fazia!).
Nota: 8/10
Tiago
PS: (Muito fica por falar acerca de cada personagem do livro, e de certas cenas em particular... talvez em posts próximos! É que o livro é tão grande que parece que fica muito por dizer!)