Título: Contos da Chuva e da Lua
Autor: Ueda Akinari
Tradutor: Manuel João Gomes
Editora: Editorial Estampa
Nº de Páginas: 193
Preço Editor: 8,59€
Este «Contos da Chuva e da Lua» é um livro escrito há mais de duzentos e quarenta anos, no tempo do Japão imperial, por um senhor letrado de nome Ueda Akinari. Na verdade, chama-se Akinari Ueda, mas como os japoneses por vezes têm este hábito de trocar a ordem de nome próprio e apelido, ficou conhecido desta forma. O livro é constituído por uma série de nove contos, cada um deles escrito com um estilo ligeiramente diferente, e inovador para a época. O fio que os une? A temática? Todos têm em comum a presença do sobrenatural, que em quase todos os casos se manifesta na forma de uma aparição fantasmagórica a meio da noite, quando a chuva se afasta e dá lugar ao brilho do luar. Daí o título do livro.
Agora a forma como estas aparições se manifestam, as histórias por trás, o porquê da sua aparição; isso é que vai variando. E depois temos contos que se debruçam mais para a temática da História do Japão; temos um que reflecte filosoficamente sobre a temática da riqueza e da cobiça; e outros que se refugiam em temáticas mais domésticas - amizades, casamentos, etc. Mas não só. Temos ainda, por exemplo, um caso de metaformose. E mais não adianto.
Ueda Akinari tem um estilo interessante e próprio. Claro que, sendo um clássico, não se consegue desviar de alguns cânones existentes na literatura. Há, contudo, uma particularidade - é que este padrão clássico é assente por completo no oriente, nos valores orientais, nos mitos chineses e nipónicos. Neste aspecto, as notas da edição portuguesa da Editorial Estampa foram muito importantes, na ajuda para a compreensão de cada conto - sublinham pormenores que dão mais sentido a cada história, explicam a simbologia de determinados objectos da história. E, dessa forma, tudo se torna mais claro.
Quando ao aspecto do 'terror', ou 'horror', andava há algum tempo à procura de um livro deste género, por curiosidade. Ele está presente, de facto, mas na maioria dos contos não tem como verdadeira intenção perturbar o leitor - serve mais de aviso e correcção da moralidade. Com a excepcção de um conto, em que me senti verdadeiramente perturbado: «A Caldeira de Kibitsu». É uma história de vingança, que me fez arrepiar por diversos momentos. Principalmente porque o tipo de escrita permite visualizar bem as imagens, nas descrições. Já os diálogos, podem parecer-nos algo artificiais, por constituírem longas unidades de discurso, com respostas ainda mais compridas. Mas, aí está, é a componente clássica do livro.
Dando agora uma volta ao assunto, passando pelo porquê de ter lido este livro, cito uma frase da tradutora do autor japonês Haruki Murakami numa entrevista que deu: «Este livro “Contos da Lua e da Chuva”, de Ueda Akinari, é muito caro ao Murakami, que de vez em quando regressa a ele; e aquele mundo dos fantasmas presente na obra dele tem que ver com este universo que aqui está.». Ora sendo Haruki Murakami o meu autor de eleição, tive curiosidade em partir para uma obra que lhe inspirara a criar o imaginário fantasmagórico da sua obra. E descobri, de facto, alguns pontos de conexão. Escusado será dizer que achei entusiasmante explorar este "ponto de partida".
Resumindo, é um livro interessante de ser lido. Não o aconselho, talvez, a qualquer pessoa. Quem já leu alguma obra oriental talvez esteja melhor preparado - caso contrário talvez possa ser um choque. Depois, não se esqueçam que estamos perante uma obra clássica, e deve-se dar um desconto nesse aspecto. No entanto, é de uma leitura que achei entusiasmante, e com um conteúdo digno de exploração. Gostei muito.
Contos Preferidos: «A Casa nos Canaviais», «Carpas, como em Sonhos» e «A Caldeira de Kibitsu».
Nota (0/10): 7 - Bom
Tiago
1 comentário:
Seu comentario aumentou meu desejo de ler este livro. Tive acesso ao filme com título: "Contos da lua Vaga" Se souber onde posso encontrar, por favor me informe. rita.mts@hotmail.com
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