segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crítica - O Outono em Pequim


Título: O Outono em Pequim
Autor: Boris Vian
Tradutora: Luísa Neto Jorge
Editora: Publicações D. Quixote
Nº de Páginas: 290
Preço Editor: 16,15€

Sinopse: «Ao contrário do que o título possa indicar, esta história não se passa no Outono nem em Pequim, mas no imaginário deserto da Exopotâmia, onde um estranho Sol emite raios negros e um grupo de pessoas bastante original tenta construir uma estação de comboios com vias- -férreas que levam a lado nenhum. Num cenário onde reinam o ilógico, o absurdo e o improvável, Vian, misturando um fantástico humor com uma desigual quantidade de náusea, introduz várias personagens excêntricas, tais como os melhores amigos Ana e Ângelo, ambos engenheiros, e Rochela, que se apaixona pelo primeiro, e se torna sua amante, enquanto Ângelo está loucamente apaixonado por ela. Além deste trio, deparamos ainda com o doutor Manjamanga, o arqueólogo Atanágoras Porfirogénito e Pipa, o dono do hotel, entre outros - todos eles num lugar que se assemelha a Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, onde existe um matiz negro e tudo é possível, excepto a felicidade».


Eu sabia que, ao escolher este livro como minha próxima leitura, estava a arriscar-me. Tinha acabado de ler há pouco tempo o «Alice do Outro Lado do Espelho», que não se revelara do meu agrado, e agora partia para um romance de absurdo escrito pelo autor Boris Vian. Resultado: apercebi-me, pela segunda vez num curto período de tempo, que provavelmente não estou na fase certa da minha vida enquanto leitor para ter receptividade a uma leitura destas.

Quero dizer... a mensagem do livro está lá, desde o princípio, agora que olho para trás. A vida é tão banal e temos tantas superficialidades, e no fundo qual é o sentido de tudo isto. O livro debruça-se sobre estes pensamentos. Mas eu só me apercebi desta moral demasiado tarde, já ia mergulhado na segunda metade. E, compreender, só compreendi mesmo na última dezena de páginas. Ou seja, o óbvio não se revelou nada óbvio para mim. E isso foi provavelmente um obstáculo a uma leitura mais profunda.

O tom é... horripilante, cru, repugnante. A palavra repugnância encaixa naquilo que, principalmente na primeira metade, achei deste livro. Despertava em mim emoções negativas, de fazer caretas com o que era narrado, de me querer afastar daquele espaço tão surreal. Mas, ao mesmo tempo, assistia com uma certa neutralidade. Chocava-me mas não me chocava - é possível esta contradição? Foi o que senti.

O tempo demorado a narrar as características de cada uma das personagem é, talvez, excessivo. E são tantas. Mas à medida que avançamos nas páginas, vamos compreendendo mais nitidamente quais os traços que caracterizam cada uma delas. Existe no abade Joãozinho um apontar de dedo aos erros cometidos pelas instituições religiosas, e nas reuniões do conselho uma forte crítica à forma como as coisas são tratadas burocraticamente. Cinismos por todo o lado. Este lado crítico está presente ao longo de toda a obra!

Não tenho a certeza se gostei da tradução. Mas não sei dar exemplos concretos de partes que me tenham agradado menos. E isto é um velho problema - se não se lê o original e não se compara com a tradução, não há maneira de ver se está bem ou mal traduzido. Já a edição da D. Quixote, embora boa ao nível da parte física do livro, está pontilhada de algumas gralhas, aproximadamente uma dezena: ora de falas sem travessão, ora de paragráfos descritivos com um travessão de fala... Pequenas coisas, mas que perturbam um pouco a leitura.

Este livro é uma metáfora muito interessante sobre a sociedade em que se vive, que não passa de um deserto, onde se servem interesses - muitas vezes ao serviço de não sabemos bem quem. Pelo meio mete-se o amor. O desejo. Num turbilhão de personagens e acontecimentos que são o turbilhão da população do nosso mundo e do que constantemente acontece à nossa volta. Mas, ainda assim, não me cativou. A mensagem está bem transmitida, mas só a percebi quando terminei. A leitura teve quase sempre um ritmo lento e estranho, apesar das peripécias sempre a acontecerem. Um tom surreal e absurdo que não me convenceu, embora não saiba explicar o porquê. Qualquer coisa.

Personagens Preferidas: Manjamanga e o interno.

Nota (0/10): 6 - Agradável

Tiago

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