Com apenas 15 anos escreveu «Início», o primeiro volume da Saga de Alamar. Hoje, aos 17, está a terminar o segundo, e vê publicado na Temas Originais a sua primeira obra. Nesta entrevista que deu em exclusivo para o Lydo e Opinado, falou do processo de escrita, das dificuldades e desafios que se lhe foram apresentando, e um pouco da sua personalidade enquanto escritora. Se és daquelas pessoas que sonhavam escrever um livro mas ainda não conseguem, aposto que a entrevista será duplamente interessante para ti! Fiquem então com as palavras de Diana Franco de Sousa:
1. Desde que idade te começaste a interessar por escrever histórias? Logo desde que aprendeste a ler e escrever?
A partir do momento em que consegui fazer frases com algum sentido que comecei a escrever. Habituei-me a andar com um caderno A5 e sempre que tinha tempo livre ia escrevendo pequenas histórias, coisas de uma página ou pouco mais. A fama de “escritora” foi pegando, e os meus colegas iam esperando histórias, o que me foi incentivando bastante para continuar a fazê-lo.
2. E antes deste «Início» da Saga de Alamar, tentaste escrever outras histórias que nunca chegaste a terminar/publicar?
Escrevi várias do mais variado tipo e feitio. O problema da maioria é mesmo nunca as chegar a acabar. Falta de interesse, motivação, porque a história já não me agrada ou porque entretanto surgiram outras que prefiro. São poucas as que chegam a ter o final merecido. As que acabei nunca sequer pensei em tentar publicar. Pelo menos até agora.
3. Escreveste o «Início» durante o evento da internet NanoWrimo (convida as pessoas a escreverem um romance de 50.000 palavras durante o mês de Novembro). Como é que soubeste da existência do Nano?
Soube-o através de uma amiga minha, que por sua vez sobre do NaNoWriMo num fórum que na altura frequentava. Participei pela primeira vez em 2007, mas não saiu mas que um par de páginas nesse ano. No ano seguinte já consegui escrever o que iria ser o “Início” e um ano mais tarde o segundo volume da saga.
4. Como foi a experiência de, durante esse mês, te concentrares na história? Deu-te muitas dores de cabeças, por causa da escola, e assim…? Ias editando para trás á medida que escrevias?
Uma coisa que aprendi rapidamente (pelo menos com a minha velocidade de escrita) foi: não rever. Não pensar nas palavras, por muito que te soem mal. Vais ter tempo mais que suficiente para o fazer depois de Novembro acabar. No princípio ainda me custou um bocado a habituar-me a pensar assim, mas acabou por pegar. Bastava ver que os resultados eram bastante melhores se apenas escrevesse.
As dores de cabeça só apareciam naqueles dias em que começava a ver o limite que teria de escrever a escapar-me. Na maioria das vezes ia aproveitando as aulas para escrever, sempre que via algum tempo livre. Mas havia dias que não chegava, e a última semana costuma ser uma corrida contra o tempo.
Mas é isso que torna o Nanowrimo uma experiência (a meu ver) boa. É essa corrida contra o tempo que nos faz querer escrever, querer acabar a tempo. O limite de tempo, e o facto de haver outras pessoas à espera que o consigas cumprir foi o que me motivou a andar para a frente. Aprendi que se eu quiser mesmo fazer algo em certo tempo limitado (desde que nada impossível, claro) e se me dedicar, que o consigo fazer.
5. A ideia inicial que tinhas do livro evoluiu de maneira diferente do que estarias à espera num primeiro momento?
Sim e não. Quando comecei a escrever era para ser só um livro. Mas à medida que o tempo foi passando apercebi-me que não ia ser possível. No entanto a história base manteve-se a mesma. Claro que tive de criar enredos secundários, outras personagens para enriquecer a história. Mas a base, o guião principal manteve-se mais ou menos o mesmo.
6. Alguma vez pensaste, durante esse mês, que o resultado da tua escrita viria a ser publicado ano e meio mais tarde?
Acho que toda a gente que gosta de escrever, numa altura ou noutra, pensa em como seria se conseguissem publicar um livro. Mesmo que o queira ou não publicar, é uma hipótese sempre presente.
Quando estava a escrever o “Início” pensei nisso, assim como essa possibilidade hipotética. Mas não ia passar disso. No entanto os pais sugeriram que mandasse para algumas editoras. Afinal, o que é que eu tinha a perder?
7. Achas que esta iniciativa do NanoWrimo é realmente uma oportunidade para as pessoas que querem escrever livros mas não os conseguem terminar? Porque achas que resulta – onde está o “segredo”?
Acho que o segredo está no facto de haver um limite, um objectivo. Muita gente (como eu) precisa é de um empurrão, de motivação para continuar a escrever. Claro que o Nanowrimo não funciona para todos. Mas é sim uma boa oportunidade para se conseguir desenvolver bases para o que mais tarde poderão ser livros. Ou então simplesmente projectos pessoais.
Também me ajudou o facto de ter amigos a participar, e esperarem de mim aquilo que eu esperava deles: acabar a história a tempo.
8. É na fantasia que te sentes mais à vontade a escrever, ou também te dás bem em outros géneros?
Fantasia foi o primeiro estilo que comecei a explorar, porque a maior parte dos livros que lia eram desse mesmo género. Mas agora costumo tentar escrever de tudo um pouco, explorar as várias hipóteses literárias. Não quer dizer que seja boa a escrever tudo, mas acho que me consigo desenrascar.
9. A seguir a escreveres, veio a parte de reveres… o processo de revisão inicial foi divertido? Mudaste muita coisa? Há quem considere essa fase chata, concordas com isso?
Há momentos chatos e momentos bons. Quando se escreve uma história inteira em apenas um mês, com certeza que vai precisar de muita revisão.
Eu para conseguir continuar a escrever tenho de ter uma ideia bem estruturada na cabeça. O enredo tem de ter lógica, tem de ter as suas justificações. Se introduzir uma nova ideia tenho de arranjar justificação imediata, senão não consigo fazê-la funcionar. Felizmente não tive de mudar muita coisa a nível disso. Acrescentei bastantes cenas, para dar consistência à história e às personagens.
O mais interessante foi ver que à medida que o tempo ia avançando a minha escrita ia melhorando. Pensei que fosse acontecer o contrário: o tempo começava a apertar, a data final a chegar, e portanto eu começava a apressar-me e a escrever ainda com menos preocupação. Mas pelos vistos habituei-me a essa tal pressão, e, no rascunho inicial, gostava mais da minha escrita na parte final que na inicial.
10. E encontrar editora? Foi difícil?
Posso estar a bater no ceguinho ao dizer que estamos em crise, mas é verdade. É por todo o lado, incluindo nas editoras. Portanto sim, foi um bocado difícil.
Antes de começar a mandar para editoras falei com uma escritora já publicada, com vários livros numa editora grande. Disse-me aquilo que eu mais tarde constatei: a maioria das editoras não vai dar nenhuma resposta. A outra parte vai dizer que tem o calendário cheio (e passar um ano sem publicar um livro). Há as outras que de todos os manuscritos que recebem escolhem para ler aquele que tem melhor aspecto (no caso de se mandar o manuscrito pelo correio).
Mas acho que o essencial é nunca desistir. Não ficar desanimado por um “não” e continuar a tentar, a enviar sinopses para várias editoras. Já tinham passado várias semanas depois de ter enviado os imensos mails que fiz quando recebi a resposta desta minha editora. É uma questão de esperar e continuar a tentar.
11. O sim da editora. Publicar um livro. Como foi o momento em que tomaste conhecimento da notícia?
Nessa altura, sempre que via um mail de resposta de alguma editora deixava-o sempre para o fim, como que para aumentar o suspense. Se fosse um não, pronto, acontece, venha a próxima. Eu aliás não esperava que alguma delas me fosse dar uma resposta positiva.
Portanto quando vi o “A sua obra parece-nos interessante” festejei como se já fosse um sim oficial, já tivesse contrato assinado e livro nas prateleiras. Foi um momento bastante bom, porque a partir da altura em que enviei a sinopse às várias editoras, acalentava a esperança de haver um sim, por muito difícil que me parecesse. E finalmente tinha chegado!
12. Voltando um pouco á questão da fantasia, género o qual gostas bastante: houve algum livro que tenhas lido que te abriu os olhos, digamos assim, para o universo do fantástico?
Houve um sim: o Hobbit, de J.R.R. Tolkien. Li-o pela primeira vez aos 8 anos, incitada pelo meu pai. Foi aí que tudo começou. Estava habituada a livros mais simples, de longe tão absorventes. Apaixonei-me pela escrita do Tolkien e li a Trilogia do Senhor dos Anéis assim que acabei o Hobbit. A partir daí comecei a explorar o mais variado leque de escritores de fantasia até ter chegado aos dias de hoje, com um currículo demasiado pesado de livros do fantástico (não me estou a queixar, muito pelo contrário!).
13. Já que falamos agora de leituras, tens livros e autores favoritos?
Houve muitos escritores que me influenciaram, muitos livros dos quais gosto. Às vezes não é o autor em si, mas apenas um livro em particular dos seus trabalhos.
Mas há sem dúvida alguns que são a minha resposta imediata: J. R. R. Tolkien, Marion Zimmer Bradley, Julliet Marillier (mais especificamente Sevenwaters), C. S. Lewis, Phillip Pulman… Joanne Rowling, mais recentemente George Martin… Como vêm são principalmente escritores de fantasia e alguns de ficção científica, como Douglas Adams.
14. Se visses o teu livro numa loja, e não tivesses sido tu a escrevê-lo, o que te levaria a comprá-lo?
O que me chamaria primeiro à atenção seria a capa. Claro que existe o tão famoso provérbio “não julgues um livro pela capa” mas ninguém pode evitar fazê-lo. Comecei a ler muitos livros porque primeiro a ilustração principal me chamou à atenção. Se depois visse que eram bons, começava a lê-los. Mas no caso do meu seria sem dúvida a capa, e a sinopse. Afinal, se eu não achasse a história interessante não a tinha escrito, não acham?
15. Incluis algumas das tuas experiências pessoais no livro, mesmo que metaforizadas? E achas que as pessoas podem identificar-se com a tua escrita de alguma maneira?
Nenhum autor consegue escapar ao facto de parte de si passar para os livros. Pode disfarçá-lo, passar despercebido, mas está sempre lá. Portanto sim, suponho que episódios que aconteçam no livro estejam lá porque talvez tenha vivido algo parecido. Mas muitos são também fruto da imaginação, a tão boa amiga dos escritores.
Podem-se identificar, sim. Não é uma escrita complicada, mas acho que por ser simples e fluida fica interessante. Não me quero gabar (ah, como esta expressão é irónica), mas já tive bastantes opiniões sobre o livro, e concordaram que é um tipo de escrita que chama a atenção e deixa o leitor envolvido na história. Não estou a dizer que seja um livro perfeito, com uma linguagem exímia, mas é razoavelmente interessante.
16. Achas que as imagens que usas no teu livro, sendo de fantasia, e proporcionado esse género cenas fortes e visualmente interessantes, tornam «Início» como potencial obra cinematográfica, no futuro? (Se bem que isso pouco dependa de um autor!).
Se eu vivesse noutro país, mais habituado a lidar com fantasia, talvez essa oportunidade surgisse. Aqui em Portugal não me parece que essa ideia possa sequer começar a crescer. Seria engraçado, sem dúvida, e acho que não haveria problema em adaptar o livro para filme. Mas não me parece que venha a acontecer.
17. Tens recebido boas críticas, tanto de amigos, como de pessoas que antes não conhecias? Isso é importante para qualquer novo escritor? Quero dizer… o que sentes quando falam e opinam o teu livro à tua frente?
De amigos tenho recebido sim, e dizem estar a gostar bastante. Agora não sei se será verdade, mas confio neles para serem totalmente honestos. Ainda não recebi nenhuma crítica de pessoas que não conhecia… mas são mais que bem-vindas!
Críticas são sempre boas, para um novo escritor ou para um com mais experiência. Ninguém é perfeito, e há sempre coisas a mudar, perspectivas a ter em conta. Portanto qualquer opinião é um ponto de partida para se melhorar o nosso tipo de escrita. Temos é de saber lidar com críticas que possam ser más, desde que tenham algum nexo por detrás delas.
É estranho falarem do meu livro, das minhas personagens e do universo que criei. Mas ao mesmo tempo sabe bem ver que algo a que dei vida está agora a aprender a andar e a fazer novos amigos.
18. Não podia terminar a entrevista sem falar de um outro aspecto, quase inevitável. Já há quatro ou mais anos que participas em comunidades de internet, onde jogavam RPG’s escritos (para os leitores do blog que não saibam, são histórias em que cada um cria uma personagem e age por ela). Sentes que desenvolveste a tua capacidade de escrita ao longo do tempo nos RPG’s, nomeadamente no que diz respeito às personagens?
Visto que eu comecei a escrever em RPGs por volta dos meus 12 anos, se não tivesse evoluído era estranho. Mas sim, foi uma fonte muito importante para evoluir a minha capacidade de escrita. Tanto por ver exemplos de outras pessoas, como por receber críticas sobre o meu estilo de escrita.
O roleplay é uma oportunidade bastante boa para desenvolver as personagens. Como o enredo não depende só de nós, temos hipótese de nos focar mais nas personagens, de lhes dar pés e cabeça e uma história credível. A interacção entre participantes é também um factor muito importante, pois vemo-nos frente a situações que se fossemos apenas nós a escrever, poderíamos nunca ter pensado nelas.
19. Também noutros fóruns mais direccionados directamente para produções escritas: poemas, histórias, contos… como o Reino da Escrita, o Colinas de Palavras. O que aprendias com os outros membros, toda aquela partilha de opiniões, influenciou?
Sem dúvida que sim. Primeiro recebia criticas construtivas acerca do meu trabalho. Depois via outras opiniões sobre outros escritores, participava em projectos conjuntos que ajudam qualquer um a evoluir. Não posso deixar de salientar que é em comunidades como esta que se pode desenvolver bastante a escrita, porque as críticas são sempre um ponto essencial.
20. Encontras-te presentemente a terminar o segundo livro da saga… olhas para o que escreves hoje, e sentes que, inevitavelmente, a escrita vai evoluindo sempre a cada dia que passa? O que podemos esperar para o futuro?
Sim, a escrita evolui sempre. Podemos estar cientes disso ou não, mas qualquer influencia exterior nos vai levar a escrever de uma maneira diferente, por mais pequena que seja. Uma troca de palavras, uma frase diferente. Pelos menos é isso que acho.
Acho que nunca vou deixar de escrever, mesmo que depois da Saga não consiga publicar mais livros. Se calhar ainda vai haver um terceiro livro, mas ainda estou ponderar na hipótese. Mas o futuro é algo muito incerto, e apenas com o tempo poderemos ver aonde as nossas decisões nos irão levar.
Muito obrigado à Diana pela disponibilidade que teve em responder à entrevista; e desejamos-lhe o maior dos sucessos no seu futuro como escritora! Se gostaram da entrevista, não percam, a partir de dia 3 aqui no Lydo e Opinado, o passatempo «Início», onde podem ganhar um exemplar do primeiro livro da autora!