Título: O Regresso do Rei - O Senhor dos Anéis (Parte III)
Autor: J. R. R. Tolkien
Tradutora: Fernanda Pinto Rodrigues
Editora: Publicações Europa-América
Nº de Páginas: 336
Preço Editor: 21,35€
Sinopse: Eis que chegámos à terceira parte de O Senhor dos Anéis. Esta terceira parte, O Regresso do Rei, trata das estratégias opostas de Gandalf e Sauron, até ao fim da grande escuridão, que concluirá esta fantástica viagem pelo estranho mundo criado pela vivíssima imaginação de Tolkien.
Após um primeiro volume cuja leitura considerei difícil, e um segundo que me surpreendeu muito positivamente, as expectativas para a terceira e última parte da mais famosa trilogia de fantasia de todos os tempos situavam-se num nível mediano. Uma grande diferença logo à partida quando comparado com os outros dois: nunca vi o terceiro filme da adaptação cinematográfica, e o final da história era para mim uma incógnita. Um ano e meio depois de ter lido "As Duas Torres" decidi por fim aventurar-me para "O Regresso do Rei".
A adaptação não foi fácil. Emergir nesta Terra Média de Tolkien não é, para mim, como começar a ler um livro de Haruki Murakami (por exemplo). Este cenário austero de guerra e turbulência, adornado pela escrita cuidada e épica que Tolkien gosta de criar, não se cola à minha faceta de leitor de uma maneira natural. É precisa uma certa insistência, passar por uma fase de habituação, para que realmente comece a desfrutar da narrativa. Os tempos estão mais negros do que nunca neste volume final, o que também não veio ajudar muito - daquelas leituras que se calhar nos apanham em má hora, não estamos muito virados para esse estilo, mas já que começámos seguimos adiante.
Depois de passada a fase de adaptação, lá me embrenhei no enredo de maneira mais intensa, e apanhei a carruagem mesmo antes dos acontecimentos mais importantes se darem. Daí até ao final do último capítulo, o tempo passou a correr, e já não custou nada. Não se assustem os leitores do blog quando falo nestes termos de "insistência", "não custou tanto", "ter que aguentar", "obrigar-me a prosseguir" - são uma realidade relativamente frequente na minha vida. O que não quer dizer minimamente que eu não gosto de ler, porque gosto: às vezes preciso é de me empurrar a mim próprio.
O desfecho da trilogia, nas suas últimas cem páginas, esboça, talvez a par de toda a sequência dos ents n' "As Duas Torres", um dos momentos mais bonitos d' "O Senhor dos Anéis". Passarmos da dimensão imensa e incrível do destino do mundo inteiro, como nos estava Tolkien a habituar desde a segunda metade d' "A irmandade do anel", para as intrigas mais privadas do cantinho dos hobbits - o Shire - é uma experiência única. Subitamente, quando pensávamos que o autor já não nos ia surpreender até ao fim, dá-nos a volta e ensina-nos ainda uma preciosa lição, pegando na humildade característica dos seres mais pequenos daquele mundo. A história cresce ao aproximar-se da escala mais pequena possível, no derradeiro final.
Queria deixar ainda uma nota muito positiva para o conjunto da tradução de toda a trilogia. Conserva um linha sólida e sóbria, extremamente bem realizada. Os meus parabéns à tradutora Fernanda Pinto Rodrigues, porque está aqui um trabalho digno de nota.
Queria deixar ainda uma nota muito positiva para o conjunto da tradução de toda a trilogia. Conserva um linha sólida e sóbria, extremamente bem realizada. Os meus parabéns à tradutora Fernanda Pinto Rodrigues, porque está aqui um trabalho digno de nota.
A conclusão da trilogia vem fechar de forma digna o conjunto. É a partir desta saga escrita por Tolkien entre os anos 30 e os anos 40 do século XX que a maior parte da fantasia contemporânea vai buscar as suas inspirações. O que é impressionante de se imaginar. Na verdade, é de se tirar o chapéu a toda a contrução de um mundo, de múltiplas línguas, culturas, cronologias, estudos sobre personagens e locais totalmente inventados. Quando a meio de uma linha nos surge uma nota de rodapé que nos diz "talvez a palavra X derive de uma variação dos orcs das montanhas do Sul" é de ficarmos de queixo caído, no sentido de que Tolkien levava a sua criação mesmo a sério. Um último destaque para tudo o que se esconde para lá desta fantasia, toda a moral com bases profundamente enraizadas na nossa sociedade, a batalha do Bem contra o Mal que, apesar de frequentemente relativizada no nosso dia-a-dia, está cá e vive connosco todos os dias.
Nota (0/10): 7 - Bom
Tiago
1 comentário:
Enviar um comentário