Provavelmente, ainda melhor que a 8. Se a revista saída no final de Outubro surpreendera positivamente pelo excelente conteúdo, o número lançado a semana passada não lhe ficou nada atrás. Talvez, de uma forma geral, os contos tenham ficado um bocadinho atrás; mas os artigos que constituíram o conteúdo de não-ficção da revista estavam excelentes. Tal como fiz com a análise da edição passada, passo a fazer uma observação ponto por ponto da BANG! 9:
- A página «Ilustrador da Capa» dá-nos a conhecer Tiago da Silva, que parece ter um trabalho muito consistente ao nível do desenho digital. A imagem presente na capa está muito boa, mas eu destaco também o trabalho Climate Changes, com os icebergs. De fazer arrepios.
- Em relação aos destaques dados na página «Colecção BANG!», três observações pessoais: o elfo negro Drizzt começa a chamar um bocadinho mais a minha atenção do que há três meses (mas já falo disto mais à frente); A Corte do Ar é definitivamente um livro a adquirir; e... porque é que ainda não comecei a comprar e a ler os livros da Kushiel? Alguém me dá o empurrão final de que preciso para me lançar nesse mundo?
- Se já tinha gostado da 1ª parte de «Os Mundos Imaginários do Fantástico Português», ensaio de António Macedo sobre a história da fantasia em Portugal, ainda mais gostei desta segunda parte. O século XX é de facto muito rico neste género, e à medida que nos aproximamos do começo do século XXI, o cenário da Fantasia muda por completo no nosso país. A referência a autores já meus conhecidos, a blogs literários que sigo (o Lydo...), e a cenários que conheço bem e que são hoje o presente no nosso mercado editorial, ajudaram muito a esta minha valorização da segunda parte do ensaio. Fechou com chave de ouro este interessantíssimo artigo!
- O artigo de Safaa Dib "O ano dos fantasmas e dos demónios", sobre o horror no cinema japonês, pareceu-me ter ficado um bocadinho pela rama. O conteúdo é interessante - cativa-me a orientalidade deste lado do terror - mas o tema, talvez pelo tamanho reduzido que ocupou, acabou por ficar um bocadinho no ar, sem muito desenvolvimento. Fica, no entanto, a curiosidade de ver um dos filmes referidos
- Primeiro dos contos desta edição: «A Invasão», de Anderson Santos. Original no seu objectivo, com a referência irresistível à figura de marketing que todos certamente irão reconhecer. No entanto, em termos de desenvolvimento do conteúdo, não me agarrou totalmente, tendo achado a forma usada um bocadinho habitual, e não inovando muito no lado livre da escrita. Fiquei com a sensação que o tema poderia ter sido melhor aproveitado. Mas foi de agradável leitura.
- Segundo conto: «Os Crisântemos Africanos», de Jorge Palhinhos. Não conhecia o autor, mas fui surpreendido pelo estilo bem marcado que pareceu afirmar. Conto de leitura dolorosa, mais intenso que o anterior, com uma intensidade dramática dura e cruel. Gostei muito desta leitura, descobri no estilo algo muito próprio do autor, o que passa de forma natural para quem lê.
- O artigo de George R. R. Martin está muito divertido. Como não podia deixar de ser (um dos meus autores favoritos), desde o primeiro momento que folheei a revista que era dos artigos que tinha mais curiosidade em ler. Toda a história das tartarugas, as piadas com que Martin enriquece o discurso, e esta convicção muito pessoal que o autor nutre pelo seu percurso profissional, tornam o artigo muito interessante. Fiquei meio estupidificado com a nota final: "Introdução a ser publicada na Retrospectiva da obra de George R. R. Martin a ser publicada em 2011"? Estamos a falar de uma edição portuguesa? Retrospectiva da obra de um autor ainda vivo e ainda a produzir parece-me demasiado ambicioso, talvez. Não me soa totalmente bem o que poderá sair daqui...
- O conto «Memorial», de Elizabeth Bear, constituiu para mim uma desilusão. Parto para a leitura com a pré-informação de que é o vencedor do prémio Hugo 2008 para melhor conto, e está o caldo entornado. As expectativas sobem disparadas, e depois desiludo-me, claro. Achei o conto interessante, com uma beleza natural, mas um pouco vago e disperso nas suas ideias. Ficou a faltar qualquer coisa ali no meio, nem tudo batia certo em termos de consistência na minha cabeça. Não me cativou por aí além. Talvez, quem sabe, com uma segunda leitura...
- O artigo de Stephen Hunt é agradável de ler, mas fiquei com a sensação de que pouco foi dito. Não me ficou particularmente marcado. Por isso não sei mais que dizer sobre ele!...
- Em seguida, um dos artigos que mais me chamou a atenção em toda a revista: Pedro Piedade Marques disserta, numa linguagem apelativa e bem colocada, sobre uma colecção de capas de ficção científica que houve em finais dos anos 60 e princípios dos 70. A colecção é, de facto, magnífica, e tem muita análise que se lhe diga. Adorei passar a conhecer o tipo de razões socio-culturais que estão por trás do design das capas dos livros. O artigo teve ainda a capacidade de me pôr uma vontade imensa de ler um livro de ficção-científica, como nunca sentira até hoje. Incrível...
- O conto «Espelho Negro», do Salvatore. Um conto do imaginário do Drizzt, elfo negro, personagem de uma série com a qual embirrei quando a conheci na BANG passada. A verdade é que a leitura do conto me ajudou a melhorar a imagem que tinha do livro. A fantasia épica descrita é daquele tipo agradável e cativante, que apetece vivenciar na pele os ambientes e descrições - embora tenha sentido uma relação de ódio com o protagonista, personagem que não me convence em nenhum sentido. O conto foi, no entanto, muito agradável de ser lido.
- Do artigo «Os livros das minhas vidas» de David Soares, destaco o primeiro de que o autor fala: Pato Donald. Interessante, porque a história com que Soares diz ter aprendido a ler, também eu a li durante os meus tempos da escola primária, num dos inúmeros livros de BD que me passaram pelas mãos.
- Sobre o artigo de Lovecraft, e das bandas desenhadas inspiradas na sua obra, achei-o excessivamente descritivo em termos de nomes de livros e seus autores, quando podia ter sido mais apostado no género de histórias e desenhos aplicados ao imaginário. Se não fossem as ilustrações que vão decorando as páginas, não ficaríamos com uma ideia de que género de BD estávamos a falar.
- O artigo sobre a relação da arquitectura com a ficção científica foi muito interessante, também, embora não tanto como esperava inicialmente. De facto, comprova-se uma interligação entre estes dois temas, que tanto me fascinaram ao longo das explicações. A ficção científica parece estar a chamar-me, e acho que não vou resistir muito tempo até começar a ler o género.
- Quanto à «Távola Redonda» desta edição, centra-se no trabalho dos tradutores. Gostei imenso do artigo, mostra-nos a prespectiva de uma profissão que apenas há pouco tempo começou a ser valorizada pelos leitores (e nem todos o fazem). Curiosas, algumas das conclusões a que se chegam. Esta secção da revista promete sempre boas análises, porque o conceito está muito bem construído.
- Gostei mais da secção de críticas literárias desta revista. As opiniões são opiniões, ao invés do que me pareceram na última revista - sinopses com breve apreciação. Gostei de todos os livros abordados, e da forma como foram elaboradas as críticas, principalmente o «Bitter Seeds» da crítica de João Barreiros. Este livro não me pode escapar. A crítica a «Sonho Febril», escrita por Inês Botelho, também está certeira.
- Em relação às 3 colunas de críticas de blogs literários, que foram aparecendo de quando em quando nas páginas da revista, estão muito bem. Este sim, é um bom sistema em termos de opiniões. Dar espaço à opinião existente na blogosfera é um tiro bem dado, porque, como dizia António Macedo no seu ensaio, os blogs representam hoje em dia uma fonte de crítica literária de extrema importância. Aqui estão as opiniões sinceras de leitores sem especialização ou estudos profundos na história da literatura. O que é muito importante para qualquer leitor comum.
Quem ainda não tem a Bang 9? Faça o favor de ir a correr até uma FNAC para ir buscar um exemplar, que se calhar não há-de tardar muito até que desapareçam das bancas. É grátis, e é um muito bom apêndice literário para os amantes da literatura fantástica. Fico anciosamente à espera da próxima. Para Maio (ou Junho?). Até lá... BANG!
Tiago
7 comentários:
Obrigado, Tiago. Achei desta vez a tua opinião mais entusiástica do que em relação aos conteúdos da Bang! 8. É bom sinal. :)
Safaa Dib
Ah, e esqueci-me de mencionar. O George RR Martin já tem desde há alguns anos uma retrospectiva publicada que reúne muitos dos seus melhores contos e noveletas de horror, FC e fantasia. É um calhamaço enorme e a SdE já tinha anunciado no fórum Bang! que ia publicar essa ficção curta do Martin (mais o bónus dos contos Dunk&Egg passados em Westeros) em 2 volumes.
Como ainda não temos nenum título definitivo, colocámos apenas "retrospectiva" na revista Bang! 9.
Obrigado pelo esclarecimento, Safaa. parece entusiasmante, enquanto fazemos um compasso de espera pela dança dos dragões...
E muitos parabéns pelo excelente trabalho que se pode ver pela revista! :D
Definitivamente devias ler os livros de kushiel. Eu adorei, são dos melhores livros de fantasia que li nos últimos tempos.
Como se chama o líder do grupo da aldeia de Pengallen?
Precisas de ler a BANG! 9 para o saber : )
a cena é que a fnac fica bués de longe!
Enviar um comentário