quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Crítica - Um Homem: Klaus Klump


Título: Um Homem: Klaus Klump
Autor: Gonçalo M. Tavares
Editora: CAMINHO
Nº de Páginas: 137
Preço Editor: 10,60€

Sinopse: Há exercícios para treinar a verdade como, por exemplo, ter medo. Ou então ter fome. Depois restam exercícios para treinar a mentira: todos os grupos são isto, e todos os negócios. Estar apaixonado é a outra forma de exercitar a verdade.


Quero começar por sublinhar o que penso já ter dito alguma vez: embora não saiba bem o porquê, Gonçalo M. Tavares e os seus livros levam-me a estados de entusiasmo elevados, e deixam-me mergulhado numa sensação que não sei classificar. E que se traduz numa expressão que não sei expressar. Precisava de deixar isto bem claro; porque, quer as palavras que escreva sobre Um Homem: Klaus Klump sejam boas ou quer sejam más, este livro, como outros de Tavares, é Grande (no seu tamanho reduzido de 140 páginas).

Um livro que tem início num cenário que não identificamos logo. Começam por nos introduzir duas personagens, e nós, num curto espaço de tempo, passamos a conhecê-las. Mas a Guerra chegou. E qualquer que tenha sido a razão da sua vinda não interessa. A Guerra chegou, e mete o leitor dentro de um saco escuro, dá um laço forte na ponta, e eis que estamos aprisionados num universo cru, mau, repelente, o qual queremos compreender de forma palpável. Sem sucesso. Gonçalo M. Tavares leva-nos a passear por corredores frios e escuros, nos confins da lógica e no limite da consciência, apresentando-nos verdades facilmente constatáveis. Se é matemática, filosofia, ou uma mistura das duas? Não sei. É, isso sem dúvida, um arriscar buscar novos conceitos do mundo.

O livro tem dois planos, que muitas vezes se entrelaçam numa mesma página: o das ideias, e o dos acontecimentos. O primeiro é difícil na sua complexidade, o segundo é difícil pela sua objectividade. No mundo dos pensamentos são-nos apresentadas teorias arrepiantes, obrigam-nos a meter a mão na lama e a vasculhar o que nela se esconde; no mundo dos acontecimentos matam-se pessoas sem muita ponderação, e tratam-se outras abaixo de cão (cão este que, como animal, é usado muitas vezes nos exemplos desta obra).

A escrita de Gonçalo M. Tavares é negra neste que foi o primeiro romance que li dele (tenho dificuldade em classificar Uma Viagem à Índia). É, também, bastante característica. Detecto elementos que começo a notar que são típicos seus - o grande destaque que ele dá ao nome das suas personagens, e o abuso no número de vezes que o utiliza, deprezando por vezes a utilização de pronomes. A emoção dos momentos? Sugada completamente por um aspirador: quer nas cenas de morte, quer nas cenas de nascimento, nas de tortura, nas de paixão, todo o sentimento é sugado e guardado numa caixa a que o leitor não tem acesso. Ficam somente as imagens, e os ambientes, transmitidos de maneira não convencional.

Um livro de leitura agradável, recheado de detalhes amargos sobre o mundo. Ao longo das páginas são expostos os nossos medos e as nossas angústias. O mundo continua a girar. Gonçalo M. Tavares tem uma obra que vai beber muita cultura a muitos sítios - e depois transforma-a numa fórmula literária. Contém um final particularmente marcante - mas falo somente, e sempre, ao nível estético e intelectual. Porque em termos de emoção, a que chega até nós vem difusa e em segunda-mão, gasta pelas palavras cruas, como o luar que não vem da Lua. E que, na escuridão da noite, não deixa de ser a luz essencial.

Personagens Preferidas: Clako.

Nota (0/10): 7 - Bom

Tiago

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